Lahane (www.mediaonetimor.co) – Discurso do presidente Por Ocasião do Jantar em Honra do Secretário-Geral das Nações Unidas, Eng. António Guterres Palácio. Aqui a Media ONE Timor publica na íntegra.
Discurso
de J. Ramos-Horta,
Presidente da República Democrática de Timor-Leste
Por Ocasião do Jantar em Honra do Secretário-Geral das Nações Unidas,
Exa. Eng. António Guterres
Palácio Lahane, Díli, 29 de agosto de 2024 2
Excelentíssimo Senhor Secretário-Geral das Nações Unidas, Muito Estimado e Muito Respeitado Amigo António Guterres,
Excelentíssimo Senhor Brahim Ghali, Presidente da República Árabe Saharaui Democrática (RASD)
Excelências: Presidente do Parlamento Nacional, Primeiro-Ministro, Presidente do Tribunal de Recurso,
Ex-Titulares de Órgãos de Soberania Representantes dos Chefes de Estado, Membros de Governo e outros Altos Dignitários Estrangeiros; Membros do Governo, Deputadas e Deputados, Chefe do Estado-Maior General das F-FDTL, Comandante-Geral da PNTL, Procurador-Geral da República (PGR), Provedor de Direitos Humanos e da Justiça (PDHJ), Membros do Corpo Diplomático e Consular, Agências de Cooperação Internacionais, Autoridades e Representantes das Confissões Religiosas e Organizações da Sociedade Civil, Distintos Convidados:
Em vosso nome, em nome de todo o nosso povo e em meu nome pessoal, dou as nossas calorosas boas-vindas ao nosso Grande Amigo, o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.
O ano 2024 está pleno de algumas grandes efemérides. Em Timor-Leste assinalamos os 50 anos da bela Revolução dos Cravos, a revolução que nos liga 3 a todos na nossa luta coletiva pela liberdade, democracia e a autodeterminação dos povos.
Os 25 anos do Acordo de Nova Iorque de 05 de Maio de 1999 que cimentou o caminho para a nossa liberdade.
Hoje relembramos as celebrações o 25º. Aniversário da Consulta Popular. Neste contexto, saúdo aqui aquele que foi um dos grandes Secretários-Gerais das Nações Unidas. No seu discurso inaugural, Kofi Annan comprometeu-se a resolver a questão de Timor-Leste durante o seu primeiro mandato. Kofi Annan cumpriu a promessa.
Assinalamos brevemente os 25 anos sobre a formação da Força Internacional para Timor-Leste (INTERFET), autorizada unanimemente pelo Conselho de Segurança em 15 de Setembro.
Curvo-me perante a memória de um grande amigo, o saudoso Francesc Vendrell, alto funcionário catalão ao serviço das Nações Unidas, que nos deixou em 2022 com um longo legado de ativismo e de defesa da causa Timorense.
Lembro Sérgio Vieira de Mello, e o seu trágico falecimento ocorrido em 19 de agosto de 2003, no Iraque. Diplomata brilhante ao serviço da ONU com um importante legado nas missões humanitárias e Representante Especial do Secretário-Geral da ONU em Timor-Leste, entre 1999 e 21 de maio de 2002.
Estão entre nós duas pessoas chaves na história do envolvimento da ONU com Timor-Leste e em Timor-Leste, Tamarat Samuel e Ian Martin, ambos intimamente e para sempre ligados a esta história digna, orgulhosa da ONU com Timor-Leste e em Timor-Leste.
Registo o nosso profundo apreço a todos os sucessivos Presidentes e PrimeirosMinistros de Portugal, Partidos Políticos com e sem assento na Assembleia da República Portuguesa. Destaco os nossos queridos amigos Presidentes Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio, Primeiro-Ministro António Guterres, José Durão Barroso, os Chefes de Estado de Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe os quais sempre estiveram connosco ao longo de toda a jornada da nossa luta de Libertação Nacional.
Não esquecemos, nesta ocasião especial, o Primeiro-Ministro John Howard, o Presidente Bill Clinton, o Primeiro-Ministro Tony Blair, o Presidente Kim Dae Jung (da Coreia do Sul), e suas lideranças que possibilitaram o consenso no Conselho de Segurança dando luz verde para a International Force for Timor-Leste – INTERFET.
Excelências,
Na sequência da grande crise económica do Sudeste Asiático, 1997-1998 e no turbilhão politico, o saudoso Presidente B.J. Habibie soube estar à altura dos desafios e oportunidades da história.
Catapultado para a Presidência da Indonésia após a resignação do Presidente Suharto, B.J. Habibie soube conduzir, com muita coragem e serenidade, a nação Indonésia para a democracia e resolução do conflito de Timor-Leste.
Apoiado com muita lucidez e muita coragem pela sua Conselheira diplomática Prof. Dra. Dewi Fortuna Anwar, e pelo Ministro Coordenador dos Assuntos Políticos e de Segurança, o General de 4 estrelas Susilo Bambang Yudhoyono (SBY), Presidente B.J. Habibie impulsionou o dialogo entre a Indonésia e Portugal, culminando na “Consulta Popular”, de 30 de Agosto de 1999.
Por solicitação do Ministro Susilo Bambang Yudhoyono, esforços foram feitos para se atribuir papel central de países membros da ASEAN e outros da Ásia na composição e liderança da INTERFET “Asian face”.
O Ministro de Negócios Estrangeiros da Tailandia Surin Pitsuwan, coordenou os esforços para uma visível participação de forças de manutenção da paz de países da ASEAN. Contingentes de forças das Filipinas, Malásia, Singapura e Tailândia desembarcaram em Timor-Leste em Setembro de 1999 juntamente com forças conjuntas da Austrália e Nova Zelândia, lideradas Major-General Peter Cosgrove (da Austrália) com o seu Adjunto o Major-General Sonkitti Jaggabattra (da Tailândia).
Oficiais generais das Filipinas, Malásia, Singapura e Tailândia comandaram em diferentes períodos as forças de paz da ONU em Timor-Leste.
Registamos igualmente as importantes contribuições em diferentes períodos de outros países – Brasil, Bangladesh, China, Japão, Jordania, Paquistão, Portugal, Nova Zelandia, Sri Lanka e outros que não cito por limite de tempo.
Excelências,
A Indonésia saiu de Timor-Leste porque assim o decidiu, honrando os compromissos assumidos com as Nações Unidas, que previam a sua retirada e substituição pelas Forças Internacionais, a quem foi confiada a garantia da segurança do território.
Em 1999, na sequência da crise económica e financeira que abalou profundamente a Orde Baru do Presidente Suharto, a TNI poderia ter assumido 5 o poder, contrariando os ventos de mudança e seguindo os exemplos de usurpação de poder por via militar como ocorrida em outros países.
A chefia militar Indonésia revelou elevado sentido de Estado, soube ler os ventos de mudança, permitiu o movimento “reformasi” que resultou na nova Indonésia moderna, democrática, próspera, pacífica.
A TNI pode orgulhar-se da forma como encerrou a questão Timorense. Não colocou resistências ao processo de transferência da segurança em Timor-Leste para uma força internacional. Se o tivesse feito, não teria havido força no Mundo capaz de a contrariar.
Um dos momentos belos de 1999 foi quando o nosso Irmão, o Comandante-emChefe da Resistência Timorense, Kay Rala Xanana Gusmão, abraçou e cumprimentou no Aeroporto de Díli os últimos oficiais sénior da TNI.
Senhor Secretário-Geral,
A sua presença entre nós reveste-se de um significado especial, pela sua liderança exemplar das Nações Unidas e pelo papel que desempenhou no apoio à nossa causa como Primeiro-Ministro de Portugal.
Hoje, ao celebrarmos 25 anos de liberdade, de soberania e de reconciliação, recordamos os sacrifícios do nosso povo. O caminho foi longo e árduo, mas, com o apoio da comunidade internacional, das Nações Unidas e suas agências especializadas, conseguimos alcançar a paz, a estabilidade e o desenvolvimento que hoje são realidade em Timor-Leste.
Vivemos num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, marcado por incertezas, conflitos armados, pandemias, insegurança alimentar e fenómenos naturais extremos resultantes das mudanças climáticas.
Reafirmamos a necessidade de se encontrar uma solução negociada para a questão do Saara Ocidental, em conformidade com as resoluções da Assembleia Geral das Nações Unidas, do Conselho de Segurança da ONU e da União Africana.
Felizmente, Timor-Leste permanece um oásis de paz, tolerância e segurança. O “Índice de Democracia” da revista The Economist e a Freedom House, classificam Timor-Leste como “livre” e o país mais democrático do Sudeste Asiático.
Em 2023 o “Índice Mundial de Liberdade de Imprensa” (do Media Watch) emitido pelos Repórteres Sem Fronteiras, colocava o nosso país na décima 6 posição a nível Mundial (Top 10), á frente de vários países desenvolvidos e democracias ocidentais.
As nossas forças de defesa e segurança – as F-FDTL e a PNTL – são um motivo de orgulho pela seu profissionalismo e respeito pelas instituições civis, e pelos direitos humanos dos nossos cidadãos.
Somos uma sociedade multicultural, multirreligiosa, multilingue e multiétnica. Estamos empenhados na nossa diversidade e pluralidade política, abertos ao mundo, tolerantes e livres de ódio.
Somos uma democracia vibrante, onde o Estado de Direito e as liberdades fundamentais prevalecem, possibilitando o crescimento e o desenvolvimento harmonioso, embora lento, dos nossos cidadãos, da iniciativa privada e das organizações da sociedade civil.
Senhor Secretário-Geral, Distintos convidados,
Estamos também prestes a receber a bênção especial com a visita de Sua Santidade o Papa Francisco, que, tal como São João Paulo II há 35 anos, marcará profundamente a nossa história nacional e espiritual.
Neste contexto destaco o facto de nosso Parlamento Nacional ter votado por unanimidade a adoção da Declaração Sobre Fraternidade Humana, um Documento Guia para toda a Humanidade, coautorado por Sua Santidade, o Papa Francisco e o Prof. Dr. Ahmed El-Tayeb, o Grande Imã de Al-Azhar Cairo, assinado solenemente no dia 04 de fevereiro de 2019 em Abu Dhabi durante a histórica visita de Sua Santidade à Península Árabe.
A terminar, gostaria de falar de alguém, que considero ser o verdadeiro Arquiteto da nossa vitória. Falo de quem está sentado ao seu lado, o Comandante-emChefe da Resistência Timorense, Sua Excelência o Primeiro-Ministro, Kay Rala Xanana Gusmão, ao qual devemos a reorganização da resistência nas suas várias vertentes armada, política, diplomática e clandestina, bem como a reconciliação e unificação da família Timorense, incluindo a Igreja Católica.
A realização das efemérides que agora celebramos, incluindo o acordo de Maio, o Referendo de Agosto e as missões subsequentes, só foram possíveis graças aos sacrifícios, à serenidade e à sabedoria deste grande Estadista, corajoso e visionário.
Sacrifícios ao longo de vinte e quatro anos, incluindo oito anos de cativeiro, na Prisão de Cipinang, onde cumpria uma pena de prisão perpétua.
Serenidade durante o período sangrento registado logo após o conhecimento dos resultados da consulta popular, momento em que soube resistir à vontade de reagir, face aos surtos de violência que proliferavam no nosso país, evitando a intervenção das tropas das FALINTIL, as quais permaneceram, ao seu comando, nos seu locais de acantonamento.
Sabedoria em preconizar a reconciliação interna e externa, entre Timorenses, e com os irmãos vizinhos, pavimentando laços de fraternidade com os nossos vizinhos, incluindo uma relação forte com a nossa Irmã, a República da Indonésia.
Sei que o Fundador da nossa Nação, não está a gostar destas referências à sua pessoa, mas a sua humildade não pode obscurecer ou fazer-nos ignorar os seus grandes feitos.
Igualmente registamos outras grandes figuras da nossa história, Xavier do Amaral, Nicolau Lobato, alguns heróis vivos hoje entre nós, Taur Matan Ruak, Lere Anan Timur, Falur Rate Laek, e muitos outros que estão no panteão da nossa memória.
No momento em que fazemos o balanço dos vinte e cinco anos da nossa história recente, são estas as verdades que devem ser celebradas para a nossa memória futura.
Ao terminar, proponho um brinde. Um brinde ao futuro de Timor-Leste e ao Secretário-Geral da ONU, Eng. António Guterres, a toda a família das Nações Unidas (“ONUndina”).
Viva Timor-Leste!(Acesso Youtube/Facebook https://www.facebook.com/Media1Timor Media ONE Timor)
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